Revolução Copérnica

O Racionalismo baseia-se na razão como responsável pelo nosso conhecimento, já que esta é inata e não depende dos sentidos para existir. A fim de compreendermos melhor essa afirmação, dividamos o Racionalismo em três modos distintos:

– O Racionalismo gnoseológico: todo verdadeiro conhecimento é dado pela razão. Neste sentido, o Racionalismo se opõe ao Empirismo e ao Intuicionismo, considerando a razão como o único meio de conhecimento, sendo a experiência sensível enganosa.

– O Racionalismo metafísico: a realidade é de caráter racional… No século XVII, o Racionalismo metafísico reforça o seu suporte religioso: Deus é visto como a suprema garantia das verdades racionais e o sustentáculo último de um universo concebido como inteligível.

– O Racionalismo psicológico: a razão é superior à emoção e à vontade. É a afirmação do primado do Intelectualismo sobre o Voluntarismo e o Emocionalismo. (D’ONOFRIO, 2004, p. 222)

 

Assim, temos René Decartes como o pai do Racionalismo moderno que, pretendendo encontrar o caminho para as incertezas da época, formula a chamada “dúvida metódica”, onde deve-se duvidar de tudo aquilo que não tenha a mesma característica das noções matemáticas. Nela, são rejeitadas as ideias “factícias” – as que referem-se ao mundo exterior –, e as “fictícias” – as criadas a partir da imaginação –, sendo aceitas somente as ideias “inatas”, pois são “axiomáticas, evidentes e estáveis, porque comuns a todos os homens.”

A primeira dessas ideias inabaláveis é a referente à própria existência humana: “se duvido, penso; se penso, existo”, tornando-se o parâmetro que distingue o ser pensante da coisa pensada, o sujeito do objeto, a alma do corpo. No entanto, sua clareza e coerência não atingem a esfera ética, pois para ele, a moral é algo variável no tempo e no espaço. Dessa forma, propõe a chamada “moral provisória”, conformando-se com as injunções de ordem política, social e religiosa.

Já o Empirismo acredita que os nossos sentidos são os responsáveis pelo nosso conhecimento e pela nossa razão. Francis Bacon inaugura essa vertente de pensamento, sendo seguido por Hobbes, Locke, Berkeley e Hume. Tal vertente faz-se “oposta ao racionalismo cartesiano que reduzia todo conhecimento científico às ideias claras e distintas, sob a inspiração da matemática.” (D’ONOFRIO, 2004, p. 223)

Bacon diz que as ideias originam-se na experiência sensível, ou seja, a partir dos nossos sentidos, afirmando: “nada havendo no intelecto que antes não houvesse passado pelos nossos sentidos”. Para ele, a mente é uma “tábua rasa” que não possui nenhuma ideia inata antes do conhecimento da realidade concreta e sensível.

Apesar das divergências racionalistas e empíricas, Descartes e Bacon coincidem num ponto: “a verdade é obra do homem e o critério de legitimidade do conhecimento é a evidência (quer inteligível, quer sensível) e não a autoridade civil ou eclesiástica” (D’ONOFRIO, 2004, p. 224), ou seja, ambos, seja através da razão ou dos sentidos, desacreditam qualquer “verdade” imposta pelas autoridades ou pela Igreja.

E é a partir das duas vertentes de pensamento que surge Immanuel Kant, com suas teorias Iluministas as quais acreditava tanto na lei da causalidade quanto em ambas as teorias para propor a formação do conhecimento.

Kant acreditava que independente da forma como veríamos ou perceberíamos o mundo a nossa volta, este seria sempre como um fenômeno no tempo e no espaço, os quais eram chamados por ele de “formas de sensibilidade”, pois segundo ele, “essas duas formas já existem em nossa consciência antes de qualquer experiência” (GAARDER, 2000, p. 348).

Ele ainda afirmava que “a consciência humana não é, portanto, uma ‘placa’ que só registra passivamente as impressões sensoriais vindas de fora. Ela também é criativa; é uma instância formadora. A própria consciência coloca sua marca no modo como percebemos o mundo” (GAARDER, 2000, p. 349). E completando, “… não é apenas a consciência que se adapta às coisas. As coisas também se adaptam à consciência” (idem, p. 349). A essa última afirmação, Kant chamou de “uma nova revolução copérnica”, pois da mesma forma que a água adquire a forma do objeto em que se encontra, o nosso espírito, ou consciência, constrói o nosso saber com base no conhecimento sensível.

Como um exemplo de que ambos se necessitam para a formação do saber, Kant utiliza uma pergunta de amplo debate: Como e de onde viemos? A isso, ele afirma que nossa consciência fica “morta”, já que não temos uma experiência sensível, nem uma ideia inata que responda. Isso porque, segundo ele, “…nunca iremos experimentar toda a enorme realidade de que somos apenas uma ínfima parte”. (GAARDER, 2000, p. 352).

Concluindo, Kant, em sua “revolução copérnica”, une as ideias racionalistas e empíricas a fim de explicar a formação de nosso conhecimento e, ainda explica, que a razão não existe sem a percepção sensível e que nunca conheceremos em profundidade as respostas a perguntas grandiosas já que representamos apenas uma ínfima parte de um todo inexplicável, apenas aceitável e compreensível.

 

BIBLIOGRAFIA

MOREIRA et al. Fundamentos sociológicos e filosóficos da educação. Ribeirão Preto: Editora COC, 2008.

GAARDER, J. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

D’ONOFRIO, S. Literatura ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Ática, 2004.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *